A história contada por pessoas que fizeram a história! Personagens que povoam a memória dos mais antigos e que ainda nos dão o privilégio de estar entre nós, servindo como ponte entre o passado e o presente.
O Portal de Marcelino teve o privilégio de conhecer neste mês de maio uma figura histórica que pode ser considerada lendária e um verdadeiro artista em razão de sua habilidade com desenhos. Trata-se de João Pinheiro da Silva, conhecido popularmente por João Pinheiro.
Localizamos este personagem no Residencial Terapêutico Morada do Sol, na linha Estreito. De longe, ainda de dentro do carro, foi possível identifica-lo com facilidade próximo de um grupo onde estavam várias pessoas. Sentado numa cadeira de palha, usando um chinelo havaianas e um boné, com um caderno no colo e um punhado de lápis de cor no bolso da camisa, ele estava concentrado no que mais gosta de fazer: desenhar. Nem mesmo a nossa presença fez com que ele parasse sua produção. Depois de um breve cumprimento o olhar se voltou novamente para sua obra prima. Nos aproximamos e acompanhamos por alguns momentos ele inserindo os últimos traços numa folha de papel onde uma casa de dois andares, com dois policiais na frente, estava ganhando vida. Um desenho que impressionava pela riqueza dos detalhes e milimétricamente projetado com uso de uma régua.
Folhando o caderno, identificamos algumas particularidades e preferências pessoais por cores, objetos e figuras que acreditamos serem vestígios de um passado que ainda está vivo na memória deste homem. Os desenhos envolvem casas de madeira, geralmente com varandas e escadas, soldados solitários ou em grupos, pontes, trens e rios. As cores usadas são fortes, com predomínio do laranja, vermelho e azul. O preto, que lembra o luto, não encontra espaço nas obras de João Pinheiro.
A entrevista
O Portal de Marcelino conseguiu entrevistá-lo, talvez uma experiência única para ele que nunca teve a oportunidade de contar para a opinião pública o que sabe do seu passado. Sentado numa cadeira, numa sombra, no meio do gramado, ele conversou com nossa reportagem. Com dificuldade para ouvir e também falar, em razão da idade, ele foi aos poucos respondendo nossas perguntas (veja vídeo abaixo). Falou sobre o temido Coronel Teixeira, sobre as enchentes em Marcelino, sobre a construção da estrada de ferro e da ponte e também do dom e da paixão pelo desenho.
Enchentes
João Pinheiro relatou que testemunhou algumas enchentes do Rio Uruguai. Uma delas ele se recorda que tinha descido até a antiga Vila Várzea para ver os estragos que as águas tinham provocado. Chegando lá, o delegado da cidade o convocou imediatamente para ajudar resgatar as família. “Tinha mais de 140 casas embaixo da água, meu Deus do Céu..”. João lembra que pegou um bote, soltou a corda e foi direção as vítimas. “Trabalhei até a meia noite, depois parei pois não aguentava mais os braços” disse ele.
A paixão pelos desenhos
João pode ser considerado um verdadeiro artista. Ele relatou que começou a desenhar com 15 anos quando estava trabalhando numa roça e viu um passarinho voando. Correu para casa, pegou um lápis e transferiu para o papel a cena. Foi assim que ele deu asas a sua imaginação e ao seu hobby mantido por décadas. “Ninguém me ensinou nada, aprendi por conta e com ele.” (olhando para cima e fazendo referência a Deus). João já perdeu as contas de quantos desenhos fez. Ele lembra que quando era novo ficou 5 meses fazendo desenhos e mandando para São Paulo, através de cursos que eram oferecidos pelos correios naquela época. Ele chegou ser convidado para ir para São Paulo, mas como não podia deixar seu pai sozinho acabou perdendo a oportunidade, talvez de seguir uma carreira, em razão de sua habilidade.
Os documentos que estão no Residencial Terapêutico dizem que João Pinheiro nasceu em 1930. No passado os pais deixavam para registrar os filhos muito anos depois dos mesmos nascerem e só quando precisavam do registro. Por lembrar de Coronel Teixeira, da construção da ponte e das enchentes, tudo leva crer que ele tem mais de 100 anos. Ele estava internado em Passo Fundo e assim que o Residencial foi implantado em Marcelino ele foi trazido de volta a sua origem. Mostra-se uma pessoa, que mesmo com idade avançada, está muito lúcida capaz de lembrar com facilidade do passado. Tem dificuldade de ouvir e falar, o que pode ser considerado normal, mas aparentemente vive feliz.
Uma lenda viva
João tem histórias que até hoje habitam o imaginário das pessoas mais antigas. Ele é uma ponte entre o passado e o presente. Uma memória viva e enigmática! O que os desenhos dele querem passar é algo que nunca ninguém vai descobrir. Como tema de casa ele nos passa uma lição: Com as cores dos lápis ele consegue colorir a vida que para muitos é preta e branca. (Marcelo Santos)
Marcelo… novamente vc está de Parabéns! Nos emocionando com suas matérias! Estive lá em abril e fiquei maravilhada com o dom do seu João, com a perfeição dos seus traços apesar da idade avançada. A clínica terapêutica do Estreito é um local q todo marcelinense deve visitar, uma boa oportunidade para refletirmos sobre o q realmente importa em nossas vidas, sobre nossas limitações e também sobre a importância de sermos mais solidários e amorosos com o próximo! O teu texto e imagens nesta reportagem são poéticos.
Parabéns pelo trabalho.
Resgatar uma raiz de nossa cidade
Li e gostei muito
João Pinheiro.. sempre querido e simpático, tenho aqui um desenho lindoooo q ele me deu quando ia todos os sábados la passar a tarde com eles….. amoooo todos eles…… parabéns pela matéria Marcelo, ele é uma pessoa muito especial e faz parte da nossa historia..
Oi marcelo o Sr joão pinheiro é o mesmo joão que morava ai no morro acima do hospital do Dr silveira eu morei ai em marcelino de 1962 a 1971 e sou filho de ferroviario nossa casa era na frente da antiga serraria dos los tenho muita saudade da cidade marravilhosa abraço se puder me responder agradeço
Olá! Gostaria muito de obter mais informações sobre esse coronel Teixeira. Onde posso encontrar?
Me emociono ao ler as histórias desta terra maravilhosa onde nasci.
Minha família morava no Alto Uruguai,e tínhamos ali agência de Correios.
Meu avô Silvio de Almeida Gralha e Anália de Moraes Gralha.
Nossa história está muito inserida com Marcelino. De aí vinha o leite em pó,e os pães feito na padaria, distribuídos em toda região.
Os bailes as festas religiosas …tudo acontecia em Marcelino Ramos.
Nostalgia…
Meu amigo sr João Pinheiro fantástico Marcelo realmente uma lenda inesquecível foi com ele q aprendi a gostar de comer abacate esmagado com garfo com pão ele m chamava inho ou Carlinhos e nos o chamava nego João era muito amigo do meu pai q ele chamava de seu Leo q história boas lembranças