Há exatos 49 anos o município de Marcelino Ramos vivenciou a fúria da natureza. A data de 18 de agosto de 1965 carrega um significado histórico, desconhecido pelas gerações mais contemporâneas, pois foi o dia em que o rio Pelotas/Uruguai extrapolou seu leito e devastou a vida de muita gente. Um lado cruel da natureza que deixou feridas jamais cicatrizadas. Uma passagem triste da história que até as lembranças fazem doer para quem esteve lá.
Naquele mês fatídico (agosto) muitas pessoas testemunharam o imponente rio, que parecia distante e amigável, se transformar em um monstro de forma repentina, deixando um rastro de destruição jamais visto principalmente na Vila Trilho e na Várzea. Foram os dois locais mais atingidos por uma das maiores cheias já registradas no município. Cálculos da época apontam que mais de 100 casas foram levadas embora pelas correntezas, algumas inteiras com móveis, animais e objetos pessoais dos moradores. “Foi um terror, nossa casa foi amarrada com cabos de aço, mas mesmo assim vimos ela indo embora e fomos tirados as pressas porque o rio subia muito rápido” comentou Nalu, filha do servidor público Antônio Kuhn (falecido) que é era ex-funcionário da Corsan.
Outra testemunha que viu a tragédia de perto foi Ivone Ritter que tem gravado na memória uma cena triste. “Me lembro das casas descendo inteira pelo rio e numa delas tinha a gaiola com um papagaio em cima, do tio bastião, gritando socorro”.
A balsa, principal ligação entre os dois estados, foi arrastada pelas correntezas por mais de 20 quilômetros. Ela foi encontrada na comunidade de Água Verde em Coronel Teixeira. A Ponte Ferroviária, apesar de todo volume de água, resistiu a cheia.
A enchente durou vários dias, deixando um clima de comoção muito grande na cidade. Se por um lado a comoção pela perda e a falta de esperança tomava conta das pessoas que assistiam suas casas partirem quase inteiras ou se desmancharem em meio a força das águas, a solidariedade nunca esteve tão presente, lembra as testemunhas da época. Mesmo quem estava distante do perigo, sujou os pés de lama e debaixo de chuva ajudou os “flagelados” (termo depreciativo utilizado para descrever as pessoas que perderam tudo com a enchente), a salvar alguma coisa.
Com o passar dos dias e com o rio voltando ao normal, a imagem da destruição foi ficando mais nítida. O vazio não ficou apenas nos terrenos que antes possuíam casas, mas na história de muitas famílias que tiveram que reconstruir suas vidas, desta vez bem distante do rio. E depois da enchente Marcelino foi atingido por uma grande nevasca que cobriu a cidade, mudando a paisagem com um grande manto branco.
As fotos que ilustram esta matéria foram encontradas na comunidade dos marcelinenses no facebook. O autor não é citado. Se você tem algum relato desta enchente e quer contribuir, deixe seu comentário preenchendo o formulário abaixo.
tenho algumas fotos dessa enchente
lembro-me muito bem. Neste ano eu entrei para o seminário tinha então 12 anos, fiquei até os 18 anos. Acompanhávamos tudo lá de cima inclusive com binóculos. Descemos com um caminhão mercedes 1111 recém adquirido e ajudamos a resgatar objetos e pessoas, algumas sendo abrigadas nas dependências do seminário.