Após um ano e um mês de investigação da Polícia Civil, em meio a constantes ataques a bancos em pequenos municípios gaúchos, o Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) deflagrou, na manhã desta quarta-feira (17) operação para desarticular três quadrilhas. Esses grupos não têm ligação, mas agem de forma semelhante, fazendo reféns, dominando as cidades por algumas horas e usando grande poder de fogo.
Cerca de 400 policiais cumpriram 91 mandados judiciais nesta manhã, sendo 37 de prisão preventiva e 54 de busca e apreensão, em 14 cidades gaúchas: Caxias do Sul, São Marcos, Flores da Cunha, Teutônia, Lajeado, Redentora, Rodeio Bonito, Esteio, Novo Hamburgo, Boa Vista das Missões, Palmeira das Missões, Seberi, Lajeado do Bugre e Jaboticaba. Até o momento, 24 pessoas foram presas.A chamada “Operação Tríade” é resultado de apuração que se iniciou em abril de 2016, quando cinco bandidos assaltaram o Banrisul de Muitos Capões, na Serra, e fugiram levando três reféns.Desde então, a Delegacia de Roubos do Deic investigou que essa organização criminosa e outras duas atacaram de forma semelhante agências bancárias em nove municípios e ainda uma ervateira. Foram 14 bancos assaltados.
— Esses suspeitos não explodem bancos, eles aguardam as agências abrirem para entrar, dominam as cidades pequenas e usam forte armamento, até fuzil. Para fugir, se não fazem verdadeiros escudos humanos, eles levam reféns para soltar depois nas rotas de fuga — disse o delegado Joel Wagner, um dos responsáveis pela investigação. Depois de Muitos Capões, os ataques ocorreram em Planalto, Maximiliano de Almeida, Tupanci do Sul, Monte Belo do Sul, Putinga, Fontoura Xavier, Redentora, Rodeio Bonito e Seberi. Este último município é o caso da ervateira. Juntas, essas cidades não têm mais do que 70 mil habitantes, uma delas, Tupanci do Sul, no Norte, próxima a Lagoa Vermelha, tem cerca de 1,7 mil moradores. Um banco foi alvo dos bandidos em setembro do ano passado, com uma pessoa mantida refém.
Em um desses 10 crimes investigados, em Maximiliano de Almeida, também no Norte gaúcho, com 4,9 mil habitantes, três agências bancárias foram atacadas no mesmo dia e os ladrões usaram em fevereiro deste ano reféns para fazer um escudo humano. Em pelo menos três ocorrências, foram dois bancos roubados de uma só vez nos municípios. Já em Fontoura Xavier, no Norte também, com 10,8 mil habitantes, havia apenas dois policiais militares na cidade quando dois bancos foram atacados e pessoas foram mantidas reféns em março deste ano.
Uma das quadrilhas desarticuladas é de Caxias do Sul e o líder dela é Alexandre Longui da Rosa, que se encontra preso na cidade de Rio Grande. Desse grupo, a polícia cumpriu 28 mandados de busca e 18 de prisão (sendo dois dos investigados já presos por outros fatos). O grupo atacou bancos com reféns em Maximiliano de Almeida, Tupanci do Sul, Monte Belo do Sul, Putinga e Fontoura Xavier.A outra quadrilha investigada também é de Caxias do Sul e o líder está preso. Adair da Silva Chaves está na Penitenciária de Caxias do Sul. Em relação a esse grupo, os agentes cumpriram seis mandados de busca e oito de prisão (sendo quatro dos investigados em casas prisionais devido a outros crimes). A organização criminosa atacou bancos em Planalto e em Muitos Capões.
Por fim, a última quadrilha investigada tem base na cidade de Novo Hamburgo, no Vale do Sinos. O líder dela também está no sistema prisional. Luiz Carlos de Oliveira está preso em Uruguaiana. Desse grupo, foram 20 mandados de busca e 11 de prisão cumpridos nesta manhã (sendo quatro dos investigados já presos). A quadrilha atacou bancos em Redentora e Rodeio Bonito, além de uma ervateira em Seberi.
Investigação
O delegado João Paulo de Abreu, também da Delegacia de Roubos do Deic e responsável pela investigação, disse que um fato chamou a atenção da polícia após ataque ao Banrisul e ao Banco do Brasil de Fontoura Xavier. Logo após os roubos, duas mulheres foram abordadas em um carro em uma das rotas de fuga. Elas foram detidas para averiguação durante buscas aos assaltantes. Mas como os policiais não tinham mais provas contra elas, acabaram sendo liberadas e reclamaram da ação policial na imprensa.No entanto, após apuração policial, foi comprovada a participação delas no assalto, basicamente para dar apoio ao grupo criminoso. A análise do trajeto que elas fizeram de carro era o mesmo dos bandidos e houve troca de mensagens entre elas e os investigados. As duas estão com a prisão preventiva decretada. Uma delas, Marcia Córdoba, foi presa.