A pandemia do novo coronavírus (covid-19) está afetando a vida de todos, de diferentes maneiras, com reflexos no setor produtivo, industrial, comercial e, principalmente, na saúde. E um dos assuntos polêmicos, que está gerando discussões na opinião pública, redes sociais e nas famílias brasileiras é sobre o uso ou não da cloroquina ou hidroxicloroquina. Mas por que a aplicação de um medicamento – assunto tão técnico e específico da área médica – virou discussão na rotina dos brasileiros? Porque o presidente do país, Jair Bolsonaro, recomendou mais de uma vez o seu uso para tratamento da doença. Mas o que dizem as autoridades médicas?
A Organização Mundial da Saúde não recomenda o uso da cloroquina ou hidroxicloroquina, depois que pesquisas no mundo mostraram a sua ineficácia. No Brasil, o Ministério da Saúde tem portaria recomendando o uso desse medicamento para tratamento da covid-19.
Contudo, a Associação de Medicina Intensiva Brasileira, Sociedade Brasileira de Infectologia e da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia publicaram um documento com diretrizes para o tratamento farmacológico da covid-19, no último dia 18, em que a primeira recomendação sugere não utilizar hidroxicloroquina ou cloroquina de rotina no tratamento da covid-19 “(recomendação fraca, nível de evidência baixo)”; e a segunda recomendação também sugere não utilizar a combinação de hidroxicloroquina ou cloroquina e azitromicina de rotina no tratamento da covid-19 – “(recomendação fraca, nível de evidência muito baixo)”.
Alto Uruguai
Segundo o médico erechinense infectologista, Vanderlei Madalozzo, a cloroquina foi um caso bem à parte, nesta pandemia, porque muitas vezes se discutiu mais o uso da cloroquina do que outras medidas para tentar evitar o máximo de pacientes com covid-19 e, principalmente, os mais graves.
Não é eficaz
“Os estudos estão mostrando já isso, que a cloroquina não é eficaz para o tratamento da doença, independente das fases. A gente gostaria que fosse uma droga eficaz, que fosse uma droga capaz de bloquear essa pandemia, esse alto número de óbitos, infelizmente não é, e os últimos estudos comprovam isso quase que 100%”, explica.
O infectologista lembra que no início da pandemia, há mais ou menos uns 60 dias, se penso que a cloroquina poderia ser usada em casos mais graves, e, depois se achou que ela poderia ser usada mais na fase inicial, em que ocorre a replicação viral. “Mas, também, os últimos estudos estão mostrando que em nenhuma das duas fases ela é eficaz”, observa.
Uso
“Quanto a usar ou não usar, tanto a Sociedade Brasileira de Infectologia, Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia e Associação de Medicina Intensiva Brasileira, elas buscam criar os seus protocolos de medicações através de comprovações científicas, e tendo comprovação científica, que não é eficaz, não tem porque usar, não vai se usar medicação sem saber os efeitos, se vai ser benéfica, se vai ter efeito colateral após o seu uso”, comenta.
Madalozzo observa que essas três instituições estão diretamente relacionadas ao tratamento da covid-19. “Então, com três entidades desse porte contraindicando, não seria recomendável usar isso”, afirma.
Prescrição
O infectologista explica que a prescrição vai depender de cada médico, cada profissional vai saber a conduta que tem que tomar, e por isso há protocolos para orientar as medidas mais corretas. “Mas o uso vai ficar a cargo de cada profissional, que vai ter a responsabilidade de prescrever ou não a medicação, e cada caso ele vai avaliar e ver o que é melhor pro seu paciente”, diz.
Segundo Madalozzo, a política do Ministério da Saúde, até a última portaria, recomenda o uso da cloroquina, assim como o Conselho Federal de Medicina, que também recomenda, desde que com cuidados. “Então, tudo isso abre margem para o colega que tem a ideia de usar estar amparado e aplicar a medicação”, observa.
Infectologista
“Eu como infectologista sigo a orientação da Sociedade Brasileira de Infectologia, em que não é recomendado uso da cloroquina. Se buscou na cloroquina alguma maneira mais eficaz e atuante contra a covid, mas, infelizmente, deu para comprovar que na realidade não se confirmou. É a vacina que vai nos tirar desta situação, e isso está em estudo”, afirma.
Protocolo
Madalozzo observa que os protocolos do Hospital de Caridade e do Hospital Santa Terezinha, que foram até modificados inclusive a respeito disso, não sugerem o uso da cloroquina para tratamento da covid. “Esse é o protocolo”, diz.
Contudo, há um adendo, se o médico que está atendendo o paciente achar, “por opinião dele, que a cloroquina vai ser eficaz, ele tem a liberdade de usar”, explica. E, acrescenta, “mas vai ter que ter a autorização do paciente, que precisa saber dos riscos que ele corre e sem certeza da eficácia, isto é, vai ser discutido na relação médico-paciente”.
No entanto, o infectologista ressalta que a recomendação oficial do protocolo – por todos os últimos estudos que saíram -, é de não indicar o uso da cloroquina.
Fonte: Jornal BOM DIA