O Portal de Marcelino marcou encontro no último final de semana com um dos mais antigos e por consequência um dos últimos tradicionalistas da cultura gaúcha que reside em solo marcelinense. Um homem que desde a infância transformou a vestimenta do povo gaúcho em traje de honra e uso obrigatório no dia a dia numa verdadeira demonstração de amor ao Rio Grande do Sul. Um homem, que infelizmente passa despercebido pela maioria dos moradores locais, que cumpre uma importante função turística e cultural e que transformou o Belvedere da cidade em seu palco para verdadeiras palestras aos turistas. Adilon Lopes da Silva, 65 anos, que faz questão de ser chamado de “Nego Dilon”, em razão da sua descendência, abriu as portas do seu “CTG” para nossa equipe de reportagem. Uma conversa longa, mas riquíssima em detalhes relacionados a lendas e histórias do povo marcelinense.
Nego Dilon nasceu em Viadutos no ano de 1946, mas mora em Marcelino Ramos desde os 3 anos de idade onde constituiu família e criou três filhos. Trabalhou como feitor e mestre na estrada de ferro, ao lado do pai, por cerca de 8 anos, mas se aposentou como servidor público, prestando serviços para a Secretaria de Obras da Prefeitura. “Teu pai seu Nato, foi meu grande professor, aprendi muito com ele na construção de calçamentos, pois ele era um especialista no assunto e sempre me ensinava e dava conselhos” relembrou sua passagem pela prefeitura, onde estava lotado na pasta comandada por Renato Prattes dos Santos (In Memória).
Na informalidade e desempenhando uma função voluntária, “Nego Dilon”, cumpre um importante papel no turismo de Marcelino Ramos. Ao longo dos anos ele acumulou uma bagagem cultural e histórica que impressiona logo nas primeiras palavras que são proferidas. Nos finais de semana é comum encontrá-lo conversando com turistas no Belvedere em frente a Ponte Ferroviária. “Eu estou sempre por aqui, chega o pessoal e eu começo contar a história da minha marcelino” explicou ele. A pilcha é traje obrigatório e uma questão de honra há mais de 50 anos. Ao Portal ele revelou um segredo. “Sabe, de vez em quando meus guris me dão calça e camisas e passo pra frente, pois adoro minha bombacha, meu lenço, meu chapéu.
A invasão de militares em Marcelino
Nego Dilon recordou um episódio tenso da história de Marcelino ocorrido no ano de 1961. Aos 15 anos de idade ele presenciou tropas do exército gaúcho vigiando a ponte ferroviária durante a revolução. A informação de que poderia ocorrer uma invasão pela ponte trouxe ao município cerca de mil soldados. Os militares ocuparam a encosta nas imediações da ponte e de metralhadoras e armas de grosso calibre ficaram por cerca de um mês. “Tinha milico esparramado por todos cantos da cidade, com barracas, era coisa impressionante”. Ele contou também, que como fazia parte do CTG da época, foi intimado a reforçar tropa. “Me deram um revólver calibre 32 e apenas 2 balas e falaram que era só o que tinham e eu fui pra ponte também”.
Carreira política
O tradicionalista também se aventurou em busca de votos em solo marcelinense. Ele foi candidato a vereador, mas não obteve número de votos suficientes para chegar a Câmara. O motivo foi uma técnica simples, muita usada por partidos políticos. “Me pediram para me candidatar apenas para roubar votos dos outros e eu como militante fui”.
O Capa Preta de Marcelino
Uma das lendas de Marcelino envolve um homem que se vestia com uma grande capa para atacar estudantes na saída da escola no período da noite. Nego Dilon lembra bem da história e tem uma suspeita de quem era o Capa Preta, mas preferiu não revelar. O caso, na época, gerou muito medo e comentários na cidade, mas felizmente o tarado não fez nenhuma vítima e em pouco tempo desapareceu.
O Padre e o Diabo
Outra lenda que Nego Dilon recordou ao Portal de Marcelino trata da história envolvendo um padre que estava chegando de Trem em Marcelino e puxou papo com um passageiro que viajava ao seu lado. Durante a conversa o padre disse que era Deus e o homem imediatamente respondeu: Eu sou o Diabo. O fato ocorreu logo que o Trem se aproximou da ponte em Marcelino. O padre sorriu e pediu para ele provar o que estava fizendo. Segundo, Dilon o homem teria se levantado da poltrona do trem e desaparecido na frente do religioso, que desembarcou na estação pálido e precisando ser socorrido com água.
Entre lendas e causos, Nego Dilon, que acompanhou o surgimento de praticamente todos os CTGs em Marcelino Ramos, vai recepcionando os turistas e repassando informações valiosas, muitas delas nem mesmo encontradas em livros. Um ícone da cultura regionalista que preserva suas origens como poucos. Um homem com 65 anos que merecia muito mais que esta simples homenagem do Portal de Marcelino. Tantas honrarias são concedidas pela Câmara de Vereadores para autoridades e lideranças, talvez algum vereador pudesse tomar a iniciativa de prestar um titulo singelo, mas necessário para um homem simples que trata a cidade como “minha marcelino”. Esses são os personagens da nossa história, que merecem nosso reconhecimento e que precisam ser valorizados em vida, não através de homenagens póstumas.
O Declamador: Assista “Os Lenços”
Grande Odilon! Trabalhei por muitos anos na Prefeitura e tive ele como colega, era uma pessoa maravilhosa, absolutamente especial, honesto, um homem de caráter, lembro dele com muito carinho. Um grande e querido amigo. Justa homenagem!!!!!!
Grande Adilon !!!Ele merece s
er reconhecido como um grande homem e exemplo da cultura tradicionalista no Rio Grande do Sul !!!
Parabens pela homenagem !!
Tenho certeza que o Nego Dilon deveria escrever um livro contando estórias marcelinense, bem como causos interessantes. Sou filha dessa terra e tenho muitas saudades daí.Meu finado pai jogava nos veteranos e gostava de cantar sambas no antigo bar do Tio Susso (Tio Campo ou sr. Campolim)
O gaucho que quis mata a cobra com o pé, calçando avaiana.
Na sua humildade soube conquistar seu espaço vô Bernadino e vô Dozolina estão felizes e nos também.Parabéns
Parabéns pela homenagem a este lugar lindo, onde na minha infância costumava passar minhas férias escolares na casa de meus avós Bernardino e Dozolina. Meu querido e amado tio Adilon em suas lembranças, com sua simplicidade faz com que esta história se perpetue!!
A Câmara de vereadores de Marcelino já demorou para fazer uma homenagem digna ao nobre e inteligente marcelinense:Dilon.