O Portal de Marcelino partiu neste domingo (07) rumo a linha Estreito, interior de Marcelino Ramos, para conhecer o Residencial Terapêutico Morada do Sol. Nosso objetivo foi mostrar o projeto que algumas pessoas, sem ao menos fazer uma visita, julgam ser um depósito de seres humanos por interesses financeiros dos seus administradores. Outras pessoas, em rodas de conversa, tratam aquele espaço como um asilo, localizado numa região erma, de difícil acesso. Entre a realidade, ficção e fantasias criadas pela mente humana, julgamos necessária uma reportagem para esclarecer os fatos.
O Residencial Terapêutico Morada do Sol está localizado nas antigas instalações da Escola Francisco Kóller, na linha Estreito, numa distância de cerca de 5km da cidade, sentido BR-153. Ele é administrado pela iniciativa privada através de um contrato de cessão de uso do imóvel por 20 anos.
O responsável é Elias Tabaczenski que veio de Passo Fundo em 2008 a partir da necessidade de se ter no município um local para receber e dar abrigo a pessoas que necessitam de cuidados especiais. Elias, que já era proprietário em Passo Fundo de um Centro da mesma natureza, decidiu implantar um projeto em Marcelino Ramos a partir da demanda de pacientes da região. São pessoas que sofrem de transtornos e alguns idosos órfãos de familiares. Ele contou ao Portal de Marcelino que chegou no município em 2008 através de uma indicação da irmã Clari. De 2008 à 2012 o local foi reformado e preparado para receber os internos. As atividades foram iniciadas com 5 pessoas. Hoje são 20 internos, sendo 7 de Marcelino Ramos e os demais de Gaurama, Viadutos e Passo Fundo.
O Residencial Terapêutico está numa área com um imóvel que foi ampliado que serve de refeitório, dormitório e escritório. Dois quiosques para lazer já estão prontos e um terceiro sendo implantado. Em frente ao prédio principal um grande gramado, que lembra um campo de futebol. Nos fundos são criados animais e também existe uma horta. Nos arredores lavouras.
Segundo Elias, o Residencial não pode ser chamado de Asilo ou algo do gênero. Trata-se de um espaço terapêutico destinado a pessoas que sofrem de transtornos psicológicos ou que precisem de cuidados especiais. São pacientes encaminhados através das Assistências Sociais dos municípios. Com eles são desenvolvidas atividades buscando o bem estar e administrado medicamentos que são prescritos pelos médicos. Neste mês de maio uma psicóloga também vai iniciar terapia duas vezes por semana.
Durante nossa visita tivemos a oportunidade de conhecer e conversar com muitos pacientes, como o caso de dona Anita Moraes de 94 anos. Uma indígena da região de Passo Fundo que foi abandonada pela tribo Coroados com 5 anos. A tribo, segundo Elias, teria a abandonado em razão de ser uma criança com necessidades especiais. Ela acabou sendo adotada por uma família de Passo Fundo e viveu com ela por muitos anos. Com a morte da família, sem ter para onde ir, ela acabou encontrando amparo no Residencial. Simpática, lúcida e muito vaidosa ela conquista os visitantes pelo seu carisma e esbanja saúde, com sinais de estar sendo muito bem cuidada.
Outro caso envolve um morador de Gaurama, chamado Elias Rodrigues. Ex-viciado em bebidas e fumante, ele está no Residencial há 3 anos. Teve sua morte anunciada por um médico que teria dado tempo de vida de 15 dias. Na época a família chegou comprar um caixão em razão do estado debilitado que ele se encontrava. Veio para clínica e está em tratamento há 3 anos longe do álcool e do fumo. Elias contou ao Portal de Marcelino seu drama, disse que sente saudade dos familiares, tem vontade de visita-los, mas não quer mais ir embora do Residencial, onde encontrou amigos que são considerados uma grande família.
São inúmeros casos e muitas histórias. Muitos com os quais nos conversamos revelaram saudade dos familiares, como se fossem verdadeiros órfãos de pessoas vivas, pois as visitas são escassas, para não dizer que elas praticamente não existem em alguns casos.
A clínica é aberta e pode ser visitada por qualquer familiar. “Nós aqui não temos cerca, muros e todos estão convidados para vir conhecer a partir das 10h de qualquer dia” explicou o administrador. Para manter cada interno são necessários valores entre dois e dois salários e meio. O Residencial precisa de doações como alimentos não perecíveis, fraldas geriátricas, materiais de higiene e roupas de cama. As pessoas interessadas em doar podem mandar mensagem para o whats (54) 98142-2232.
Elias contou também que há poucos dias um grupo da cidade, formado por amigos, foram até o local e promoveram um almoço de galeto com massa para os internos. Uma ação de solidariedade importante para quem está internado.
São pessoas especiais, carentes e que precisam ser olhadas com carinho pela comunidade marcelinense. O Residencial pode não ser a solução para todos os problemas de todos que estão lá. Mas é uma grande alternativa para estas pessoas que precisam de amparo neste momento difícil da vida.
Para nós, mais uma vez, fica a lição: Antes de disparar críticas ou tecer qualquer comentário a respeito do Residencial, faça uma visita! Tome um chimarrão com aquelas pessoas, dê ouvidos para aquelas histórias e mergulhe junto com elas naquele mundo, por mais absurdo que pareça. Com atenção e carinho, o olho de quem estiver em sua frente vai brilhar.
Vídeo reportagem
Eu já fui lá. Senti uma paz muito grande. É um lugar de boas energias. Pessoas legais. Tanto os administradores, empregados e internos. Abraços para todos. Pretendo voltar para mais um chimarrão.
Obrigada Elias e Cleusa…vcs fazem eles muito felizes….Que o Senhor Maior sempre os abençoe. …Um abraço a cada um de vcs…Em especial ao Elias. ..