Como jornalista, atuando há mais de 20 anos em Santa Catarina, já retratei acidentes e tragédias das mais diversas naturezas. São fatos lamentáveis, mas que fazem parte da nossa rotina quase que diariamente. Na academia a teoria diz que o profissional precisa ter um comportamento “frio” perante aos acontecimentos para não deixar a emoção interferir no recorte de uma determinada realidade que vai virar notícia. E desta forma mantemos nossa linha de atuação, por mais difícil que seja. Acidentes aéreos, automobilísticos, assassinatos e crimes praticados pelo homem estão inseridos em nossas pautas. Mas um caso específico registrado em Lages/SC, na serra catarinense, me abalou profissionalmente e me fez deixar de lado a teoria da faculdade e mergulhar vivenciando a cena de um crime praticado por um homem com comportamento que foge de nossa compreensão.
O ocorrido:
Ele estava vagando pela mata, solitário e em busca de comida. De repente um estampido. Ao olhar para baixo sente que está ferido e começa a pular de galho em galho em busca de proteção. Enquanto a dor toma conta do corpo, busca por água, na esperança de sobreviver. Quase sem forças, para continuar a luta contra a morte e a poucos metros de um rio, se abraça em um tronco de xaxim, que assim como ele lutava contra a força devastadora do homem. Aos poucos fecha os olhos e morre sem saber o porquê deixaria de viver, em um espaço da natureza, cercado por asfalto e tomado pelo vai e vem dos carros.
Poderia muito bem ser a descrição de um crime contra o próprio homem, dados os detalhes de luta pela vida, mas estamos falando de um exemplar de “Alouatta guariba” ou Bugio como é popularmente conhecido, que foi morto por um tiro dentro do Parque Natural Municipal João José Theodoro da Costa Neto, entre as BRs-116 e 282 em Lages.
O exemplar do primata foi localizado ainda no domingo pelo neto de Antônio Velho de Liz, um dos funcionários do parque. Junto com Katja Volkert, a reportagem do Correio Lageano entrou mata adentro durante mais de 45 minutos, por trilhas íngremes e mata fechada até chegar ao local do crime ambiental.
Ao ver a cena do bugio morto e abraçado à árvore de xaxim, Katja que atua na fiscalização da Secretaria de Meio Ambiente e também trabalha no parque, mesmo cansada, enche os olhos de água e em um gesto de carinho segura a mão do primata por alguns minutos, como se tivesse querendo entender o que teria levado alguém a matá-lo.
Durante pouco mais de 15 minutos ficamos ali, observando a expressão serena do animal. Preparado para andar pela mata fechada, Antônio que aos 58 anos de vida, ainda encontra energias para estudar na quinta fase de biologia, demonstra indignação com o fato e comenta a sua luta contra a ação de caçadores dentro do parque. “Eles vêm quando sabem que não estamos por aqui cuidando e fazem esse tipo de atrocidade. Por que matar um animal, que não faz mal a ninguém? Realmente não tem explicação”, exclamava.
Havia chegado a hora de tirar o macaco do local, para que ele fosse levado ao Centro de Ciências Agroveterinárias da Udesc para pesquisas e seu correto destino final. Pouco antes de retirá-lo, Katja olha novamente para o animal e comenta: “Está na hora de isso parar. Até quando não irão respeitar esse pequeno e único espaço de mata que esses animais têm para viver?”. Antonio coloca o bugio nas costas e iniciamos o caminho de volta.
Durante a trilha, escutamos pássaros, observamos rastros de espécies como cutia e capivara. Ao chegarmos na entrada, Katja comenta: “Mesmo em um lugar assim, ainda tem gente que não sabe valorizar que isso pode estar acabando, que compete a gente preservar e evitar que crimes ambientais como esse voltem a acontecer. Mas até quando a lei, a vigilância e o senso de preservação, são fortes contra a vontade do homem de matar?”
Fonte/foto: Paulo Afonso
Um covarde,,,qualquer ser humano de verdade que tem Deus em primeiro lugar na sua vida se emociona com uma situação dessa e repodia este ato de um covarde,,,,