O Portal de Marcelino mergulhou fundo neste final de semana na história de um balseiro empreendedor. Um homem corajoso, batalhador que por mais de meio século flutuou de uma margem à outra do rio Uruguai fazendo a ligação entre os estados do RS e SC. Aos 84 anos, Valdemar dos Santos, natural de Paim Filho mas morador de Marcelino Ramos desde 1962, abriu as portas de sua casa na rua Independência para nossa equipe de reportagem. Acompanhado pelo filho Neri dos Santos, que administra os negócios, o empresário das águas relatou muitas histórias e nos oportunizou uma viagem ao passado e a informações preciosas do ponto de vista histórico, que talvez poucos marcelinenses tenham conhecimento. Observando o acervo de informações, jornalisticamente percebi que estava diante de fatos extremamente importantes que precisam ser inseridos na história de Marcelino, e mais, uma trajetória de sucesso e de empreendedorismo merecedora de uma homenagem pelos relevantes serviços prestados a comunidade.
O início
Valdemar dos Santos herdou do pai Fortunato dos Santos a paixão por balsas. Ele iniciou sua trajetória no transporte aquático em 1940, ao lado do pai, no município de Paim Filho onde fazia a travessia no Rio Forquilha. Ainda jovem, adquiriu experiência e muito conhecimento na área, principalmente na fabricação de embarcações, que para a época eram extremamente importantes.
Com visão de empreendedor e incentivado pelo pai que era da área, Valdemar partiu rumo a Marcelino Ramos onde atracou em nossa cidade no ano de 1962. A primeira balsa foi adquirida da Indústria Vecchi, medindo 26 metros e com capacidade para 35 toneladas.
Principal ligação entre RS e SC
O balseiro, que apesar da idade, continua acompanhando de perto os negócios, recorda que no início, na década de 60, a única ligação na região entre RS e SC era através da balsa, visto que a BR-153 e a ponte, próximo ao posto fiscal, não existiam. Valdemar dos Santos lembra que por mais de 10 anos foi um negócio muito lucrativo, pois diariamente passavam pela balsa mais de 200 carros. Para fazer o controle do fluxo de veículos chegou ser instalada uma cancela. O porto ficava alguns metros acima da atual localização da balsa. A travessia era feita durante 24h de segunda a domingo. Com a construção da BR-153 e da ponte, no final da década de 70, o movimento da balsa sofreu uma queda de 80%.
Famosos
Como a balsa de Marcelino Ramos era a principal ligação entre RS e SC muitas pessoas passavam pela nossa cidade. Valdemar dos Santos relatou a equipe do Portal de Marcelino que num determinado dia foi pego de surpresa com um ícone da música do RS. Em caravana para um show em Concórdia, Teixeirinha e Mary Teresinha (esposa) passaram pelo porto. Pararam alguns minutos aguardando a balsa, trocaram algumas palavras e em seguida seguiram viagem. Há relatos inclusive de que Roberto Carlos, à caminho de Porto Alegre, teria também passado pela balsa de Marcelino Ramos.
Empreendedorismo
Além de Marcelino Ramos, atualmente Valdemar dos Santos é proprietário de mais quatro balsas: em Campinas do Sul, Nicolau Vergueiro, Machadinho e Piratuba. Entre os anos de 1972 e 1978 ele aventurou pelo norte do Paraná explorando o transporte aquático no município de Umuarama (PR). Depois de 6 anos naquela região, vendeu as balsas e o ponto para um banqueiro, pelo valor de 3,5 milhões (valor da época). Com o dinheiro ,investiu no comércio de Marcelino adquirindo as “Casas Uruguai” ficando com a loja por cerca de 12 anos, mas nunca se afastando da balsa.
Museu
Mesmo com 84 anos o espírito de empreendedor e de amor pela atividade se mantém vivo. Numa sala preparada na casa onde mora na rua Independência (próximo a sorveteria do Julinho) Valdemar dos Santos montou um Museu que leva o nome de “Museu Recordativo Fluviário Sucedido”. No museu, o qual tivemos acesso com exclusividade, é possível encontrar inúmeras fotos que mostram sua trajetória de sucesso. São fotos desde a primeira balsa colocada no rio Uruguai até a última mais moderna. Um acervo histórico rico em detalhes que mostram épocas distintas. O Museu, inclusive identificado por uma placa, deverá ser aberto a comunidade e à estudantes nos próximos dias para que todos conheçam parte desta história de sucesso.
Enchentes
Valdemar dos Santos serve de exemplo, pois na época foi um homem perseverante que não se deixou abater pelas inúmeras dificuldades. Neri, o filho que administra os negócios, recorda uma enchente ocorrida no ano de 1965.
As correntezas do rio pegaram os funcionários de surpresa. A balsa e a lancha foram arrastadas por vários quilômetros parando na comunidade de Água Verde (Coronel Teixeira). Para recolocar a balsa no lugar a mesma foi desmontada, pois havia sido construída em blocos e várias carretas foram usadas no transporte de volta ao porto em Marcelino Ramos. O trabalho durou mais de um mês, tempo que a ligação entre os dois estados ficou paralisada.
Recorde de transporte
Na Romaria de 1976 as imagens mostram a balsa transportando, numa única travessia, cerca de 500 pessoas. Uma lotação que hoje não é permitida pela Capitania dos Portos, órgão ligado a Marinha e que faz o trabalho de fiscalização.
Investimento
Mesmo com 5 balsas em atividade, a família Santos continua construindo novas embarcações para oferecer um serviço de melhor qualidade aos usuários. Neri dos Santos relatou, a título de curiosidade, que uma balsa, como a de Marcelino, custa cerca de R$ 500 mil. “Hoje com o preço do ferro é um valor significativo fazer um investimento nesta área. Para você ter uma idéia a balsa em si custa cerca de R$ 350 mil e mais a lancha R$ 150 mil”, disse o empresário.
Futuro
“O futuro não é animador”. A afirmação é de Neri dos Santos que entende que o negócio vem sofrendo impactos negativos ao longo dos últimos anos, pois foram construídas muitas pontes e as balsas estão ficando cada vez menos importantes. Para ser ter uma idéia atualmente em Marcelino Ramos o movimento é de 60 carros/dia. No início se registrava até 200 travessias.
Uma vida transportando vidas com muita perseverança de uma margem para outra e superando as dificuldades. Este é o perfil de Valdemar dos Santos. Conhecendo a história deste homem, como jornalista e marcelinense, acredito que ele seja merecedor de uma homenagem ou honraria pelo poder público, quer seja prefeitura ou câmara de vereadores. Para registro, no final da nossa visita, identificamos o amor dele pela sua atividade. Com lágrimas nos olhos e com a voz embargada, no meio do acervo fotográfico, ele agradeceu nossa presença. Esse é o objetivo do Portal de Marcelino. Além de notícias do cotidiano, nossa intenção é relatar histórias da nossa gente.
Confira fotos do acervo
Parabens a familia do Sr. Valdemar dos Santos brilhante ideia, abracos
SR Valdemar ,tenho orgulho deste velho ,balceiro ,pois na minha infancia ,tive o prazer de andar muito em suas balsas ; lembro de nois ,juntamente com seu neto alvaro ,pulando de cima da balsa ,se banhando no velho rio uruguai ! HOJE COM 39 ANOS TENHO SAUDADES DAQUELES VELHOS TEMPOS ,QUE NAO VOLTAM MAIS ; MAS FICOFELIZ EM SABER QUE O VELHO VALDEMAR ESTA FIRME E FORTE ,SEGUINDO A SUA VIDA DE BALSEIRO !!!! GRANDE ABRAÇO MEU AMIGO ,DE [JOCELI ROBERTO VANINI ,FILHO DO ZE DO FOGAO ,AI DE MARCELINO RAMOS ]
Que legal, muitas vezes passamos por pessoas e não imaginamos que elas guardam histórias de vida. Seu Valdemar, como mostra o site, é uma pessoa que merece nosso carinho e respeito pois foi um homem bem sucedido e que investiu em nossa cidade. Merece sim uma homenagem pela câmara. Abs
Tive a satisfação de visitar o Museu. Vale a pena! O Sr. Waldemar é um marcelinense apaixonado pela nossa terra e tem muita coisa bonita para nos contar. Parabéns aos idealizadores do projeto.
O senhor Waldemar, sua esposa e seus filhos são pessoas maravilhosas. Fico muito feliz em ver essa matéria, que acima de enaltece o trabalho das pessoas comuns, parte do nosso cotidiano. Reconhecer todo esse trabalho e esforço é uma valorosa recompensa que certamente não será por eles esquecida.
Parabéns a todos!
ESSE GRANDE HOMEM, TENHO MUITO ORGULHO DELE, PELA SEUA TRAJETÓRIA E HISTÓRIA DE VIDA…TENHO PRIVILÉGIO DE SER SUA SOBRINHA, A FILHADA E DE TER MORADO COM ELE E SUA FAMÍLIA POR ALGUM TEMPO….FAMÍLIA ESTA QUE TENHO COMO MINHA!!!!!!
PARABÉNS!!!!!
Sou Marcelinense, e muitas vezes atravessei Rio Uruguai pela Balsa, pois lecionava em Uruguai-SC, era rotineiro atravessar todos os dias, e em 1965, ano da enchente, somente a lancha fazia o trajeto, e outro carro nos esperava , conduzindo-nos ate a escola.
Conhecemos muito bem o Sr Valdemar e sua esposa Vilma e tb seus filhos, era admirado pela sua calma, falava e fala ate hj pausadamente.
Realmente eram outros tempos, em Setembro , há a Romaria de N.S.da Salette, o movimento era intenso, atualmente menor, a paisagem e maravilhosa pois estamos entre dois estados belíssimos- RS E SC.
Atualmente moramos em Concordia-SC, distancia de mais ou menos 50 km, e sp que podemos atravessamos pela balsa, balseiros dedicados pois o trabalho exige confiança, pois ao atracar a balsa deve ser sp presa com correntes. A travessia, daria belas historias, mas quem quiser conhecer , va ate M.Ramos, ver em loco, td aquilo que o Sr. Valdemar relatou e relata sp que pode. Minha familiaq e eu temos um gde carinho pela nossa cidade natal.
Há fôlego de gato em meu pai. . . aos 11 anos de idade ele já cuidava da balsa de madeira do velho Fortunato. Animou bailes com acordeon até que casou. Tentou mudar de atividade quando na terceira safra frustrada de trigo resolveu voltar ao que sabia fazer. Adquiriu em 1962 a travessia em Marcelino Ramos em meio aos rumores de construção de ponte e assoalhamento da férrea. Em 17/08/65 a enchente levou todas as coisas que encontrou até 19,40 mts acima do nivel normal; muitas familias ficaram sem as casas. Ao seu Waldemar ficou um jeep willis 4×4 e a esposa no hospital a nascer o quarto filho. Aí haja trabalho, paciencia e determinação devido a incerteza da atividade. . . provavelmente esse episódio lhe trouxe mais firmesa para as proximas adversidades que estaavam as portas. em 1972 a balsa viajou de novo. . . Em 1975 ele suportou 4 meses de enchente no Paranazão no P.figueira e Sto. Antonio sem faturar um centavo e mesmo assim manteve os 20 funcionários de 3 sm escolhidos a dedo. Este sim foi um duro golpe. . . Mas teimando mais que alemão só entregou os pontos 2 anos mais tarde.
Em resumo é trabalho em tempo bom e ruim e no lazer, pra variar trabalhar mais um pouco.
Grande Seu Valdemar, lembra que o Sr. me batizou de CHICO DA GAITA, filho do domador de Paim Filho. Estou de pé no estribo pra lhe visitar, lembra que o Sr. me deu a oportunidade de ser apresentador de programa de Rádio o FOGO DE CHÃO da Rádio Salete, pois hoje tenho um programa com o título de Entardecer na Querência de segunda à sexta das 17,30 às 19,00horas na Studio FM 105.9 de Nova Araçá, mais o bom mesmo é ir aí lhe visitar e contar os nossos causos que já estou com muita saudade, um grande abraço para toda a sua família, deste amigo de verdade: Francisco Corá Candido (Chico da Gaita)
Grande trabalho, Marcelo, excepcional trabalho